segunda-feira, 1 de julho de 2013

Bem-vindos a um novo Brasil

  
A Copa do Mundo com todo o seu 'padrão FIFA' e os Jogos Olímpicos, cujos altos custos, aliados ao aumento dos transportes públicos, compuseram a mistura explosiva que enfim trouxe a massa às ruas, teve uma etapa vencida. O Brasil foi campeão da Copa das Confederações, prévia da competição de 2014, em solo futebolístico sagrado, honrado por quase 80 mil torcedores e, notoriamente, sem a presença dos mandatários dos três níveis de governo. No máximo, um desimportante ministro dos Esportes (como é o nome dele mesmo?) esteve ali, ao lado do presidente da FIFA. Com seus índices de popularidade precipício abaixo, prefeito, governador e presidente da República contentaram-se em assistir pela televisão aos três a zero sobre a Fúria, evitando que outra delas eclodisse em pleno Maracanã contra si, manifesta pela torcida por um Brasil melhor.

Que bom, para a classe política, que o foco internacional se distanciará um pouco das manifestações de rua, com o fim da competição. Bom, também, que os protestos persistam, porque ainda é preciso mudar muita coisa. Aliás, oficialmente por conta desse expediente e, é claro, para avaliar os estragos profundos nas intenções de voto nos partidos da base amestrada, nossa governanta reúne hoje seus 40 - aliás, 39; Ali-Babá é que tinha 40 - ministros para... Sabe Deus (quem sabe, nem Ele) exatamente o quê. A ideia é discutir os pontos trazidos à baila pelos protestos e propor uma linha de ação a respeito. O dever de casa deixado de fazer nos dois anos e meio de letargia anteriores a todo o vômito popular que se viu.

Fato é que o fenômeno da cara de pau existe e essa turma comunista bem que está tentando tirar algum proveito da situação, se é que isso é possível depois do despertar do povão. Todo mundo sabe que Dilma Rousseff foi eleita a 'preferida' de Lula em 2010 somente porque José Dirceu, envolto no mar de lama do mensalão, estava fora de combate e ele próprio, o ex, não poderia candidatar-se a um terceiro mandato seguido - embora muito desejasse. Meio mundo petralha não engole a governanta, a não ser com, pelo menos, duas colheres de sopa de óleo de rícino, para poder passar goela abaixo. Com o seu governo em crise, parece ter chegado o momento de meter-lhe o pé na cabeça para enterrá-la mais ainda, algo bem próprio do caráter do Petê, aproveitando a ocasião para propor Lula como salvador da pátria: o Sassá Mutema do século 21 - com todo respeito ao Lima Duarte, cujo personagem da novela de 1989, ao contrário do atual, era um homem decente.

Por duas vezes, essa tentativa de reverter a crise de imagem apareceu na mídia. No dia 17 de junho, a segunda-feira que registrou os protestos mais incandescentes, Paulo Teixeira, Secretário-Geral do Petê, esteve no Largo da Batata, epicentro das manifestações em São Paulo, comentando depois: 'Enquanto nós lembramos que fizemos muitas coisas boas para o País, a garotada está dizendo Tudo bem, mas nós queremos mais'. Neste domingo 30, dia da final do Brasil contra a Espanha, foi a vez de Lula, que elogiou a postura de Dilma perante as manifestações, dizendo que ela tem sido solidária àqueles que pacificamente vão às ruas, com frases do tipo 'feliz é o pais que tem um povo com liberdade de se manifestar e ainda mais feliz é um pais que tem um povo que vai às ruas querendo mais'. A demonstração de solidariedade foi feita durante sua preleção em um evento sobre segurança alimentar realizado pela União Africana, pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo Instituto Lula, em Adis Abeba, capital da Etiópia. Lula disse acreditar ainda que o povo 'quer mais participação e melhores serviços públicos', como 'resultado do que foi feito nesses 10 anos'; que 'a sociedade deve estar em movimento e não em silêncio'; e, por fim, que considera saudável que as pessoas queiram mais no Brasil, em termos de transportes, saúde, salário e até outras coisas, como questionar o custo da Copa do Mundo. 'Acho que isso é saudável em um pais que vive só pouco mais de 20 e poucos anos de democracia contínua', completou.

Bastante populistas, ambas as abordagens, tanto ao marcar a presença de jovens no âmbito das manifestações, quanto ao reconhecer os anseios da população, respondendo com novas promessas de que sejam atendidas. Nada, contudo, com consistência: apenas mais palavras ao vento.

Uma das providências mais importantes a se tomar é, sem dúvida, a viabilização da reforma política, procrastinada há décadas por um parlamento que não tem qualquer interesse em mudanças. Há porém problemas em relação a isso. Os atuais deputados e senadores, em sua grossa maioria não querem, embora sejam quem tem legitimidade para tocar a iniciativa. A governanta, por sua vez, aproveitando-se do desgaste dos parlamentares e de seu desprezo pela instituição que representam, quer passar por cima do Congresso Nacional usando do expediente do plebiscito, ainda como forma de demonstração (falsa) de apreço pelo distinto eleitor, em cujo colo cairia a responsabilidade de responder a algumas perguntas-chave que, em tese, deverão ajudar a redesenhar o exercício da política no Brasil.

Outro porém nessa história toda é o uso do plebiscito, que é um instrumento democrático, mas que, na atual estratégia petista, vem à tona com o único propósito de capitanear mais força para o Poder Executivo, enfraquecendo o parlamento e aumentando gradativamente o potencial tirânico do ocupante da presidência da República. O sonho dourado das ditaduras bolivarianas de inspiração castrista-chavista, com as quais o partido do governo no Brasil tem relação e inspiração extremamente íntimas.

Resumo da ópera: o momento é de não deixar arrefecer o ânimo dos bons protestos, aqueles pacíficos que guardam honestidade de propósito com os anseios da população. E de rechaçar a ideia do plebiscito, que, decerto, não se encaixa nesse ideário de um Brasil melhor, pelo qual o cidadão de bem vem lutando com tanta perseverança, nessas últimas semanas.

Que a chama não se apague!