quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Carta a Ricardo Boechat

  
Prezado Ricardo Boechat

Ouvinte atento é um problema.

Acompanho com prazer a BandNews Fluminense FM desde aquele domingo, 20 de maio de 2005, quando fiquei na escuta do rádio do carro à espera da entrada da nova emissora no ar. Acostumei-me com o estilo, com o pulsar das notícias e permaneço fiel ouvinte, tanto quanto meu tempo permite. E, como terapia contra os maus momentos da vida, quero declarar que rio a valer com o seu impagável papo matinal com o - não menos impagável - José Simão. 

Escutei hoje - quarta 14 - cedo sua nota a respeito do protesto de ouvintes contra a não menção ao livro do Amaury Ribeiro Júnior, tratando de maracutaias nas privatizações. Gostei da sua ponderação, com relação ao fato de que houve progressos na área das telecomunicações, sem que isso, é claro, possa servir de justificativa para a eventual malversação do (nosso) dinheiro público. 

O que me leva, então, a lhe escrever é o gancho que o assunto faz para a nossa maior mazela nacional: a corrupção. A imprensa tem sido implacável nas denúncias aos crimes de lesa-pátria que o alto escalão do governo vem perpetrando, a ponto de suscitar frases lapidares como a do Paulinho da Força, que não admite que a imprensa venha detonando ministros a cada quinze dias. Sendo ou não um 'quarto poder', apelido que inspirou até o nome do programa de tevê do Roberto Faith; sendo ou não a manifestação verdadeira de uma 'opinião pública', no sentido de expressão autêntica de clamores populares, o fato é que eu acho que o país tem, sim, a agradecer pelo serviço que a investigação jornalística tem prestado ao Brasil, mostrando os bastidores infelizmente imundos da nossa política. 

Só que, Boechat, eu considero que é preciso mais do que isso: é imprescindível que os órgãos de comunicação, separadamente ou num só grande coro, emplaquem uma campanha nacional anticorrupção. Manter as denúncias, sim, porque é o trabalho do Jornalismo. Porém avançar nisso, engendrando uma cruzada também implacável, compondo frases, slogans, cartazes, galhardetes, filmes publicitários, spots de rádio, enfim, um mundo de coisas, numa grande campanha contra a corrupção. Jornalistas e empresários de comunicação são cidadãos, que têm - eu imagino - os mesmos reclamos do ouvinte, do leitor, do telespectador, que estão de saco cheio de ver escoar para os bolsos de um bando de vigaristas o suado dinheiro que somos obrigados a verter para escolas melhores, hospitais decentes, estradas seguras e tantos outros direitos básicos que nós, contribuintes, temos que exigir. 'Lugar de corrupto é na cadeia' me parece um bom mote, a ser devidamente trabalhado por um marketing competente, com o auxílio de uma programação visual forte, direta e sem medo. Sem medo, como é do bom Jornalismo. 

Sem medo da represália de um governo que tem buscado as formas mais sub-reptícias de censura à liberdade de expressão em cada ato pensado dessa gente que aí está, que parece se esquecer de que a liberdade de que dispõe, até para isso (tentar cerceá-la), é um bem dos mais sagrados. Sem medo da ameaça do corte de verbas publicitárias oficiais (olha a censura aí!), o tipo do temor que costuma levar ao silêncio conivente e conveniente à garantia da sobrevivência. Sem medo do retumbante sucesso que essa mobilização fará nas almas de 190 milhões de brasileiros, ávidos por um basta no vilipêndio de seu patriotismo. 

Liberdade, sim, com a responsabilidade de usá-la. Você já disse no ar que não suporta mais falar de José Sarney, por tudo o que ele representa. Concordo plenamente com o seu ponto de vista. Quanto à 'presidenta', contudo, discordamos: você fala que essa senhora tem 'biografia' (para mim, tem prontuário policial), para aplicar seu 'chinelo moral' naqueles que cometem 'malfeitos' (eufêmico demais; pelo Código Penal, são delitos). Direito mútuo nosso, de vermos diferentemente. Que bom! 

Que tal empreendermos essa campanha moralizadora, com a penetração e o poder de abordagem que a imprensa possui? Ficam a ideia e o meu contato (inclusive dos meus blogues, capitaneados pelo Blogues do Marcelo), à disposição.

   

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um corpo que cai... Mais um ministro - o sexto - que sai

  
Se Deus um dia olhasse a terra e visse o meu estado
Na certa compreenderia o meu trilhar desesperado
E tendo ele em suas mãos o leme dos destinos
Não deixar-me-ia assim, a cometer desatinos
É doloroso, mas infelizmente é a verdade
Eu não devia nem sequer pensar numa felicidade
Que não posso ter
Mas sinto uma revolta dentro do meu peito
É muito triste não se ter direito, nem de viver
Jamais consegui um sonho ver concretizado
Por mais modesto e banal sempre me foi negado
Assim meu Deus francamente devo desistir
Contra os caprichos da sorte eu não devo insistir
Eu quero fugir ao suplício a que estou condenado
Eu quero deixar esta vida onde eu fui derrotado
Sou um covarde bem sei que o direito é levar a cruz até o fim
Mas não posso é pesada demais para mim
É doloroso, mas infelizmente é a verdade
Eu não devia nem sequer pensar numa felicidade
Que não posso ter
Mas sinto uma revolta dentro do meu peito
É muito triste não se ter direito, nem de viver


...

Caiu nesta quarta 26, antevéspera do Dia do Funcionário Público (comemorativo de milhões de brasileiros, nas diversas esferas de poder, que contribuem e servem ao Estado e, em especial, à sociedade, nas mais diferentes áreas de trabalho), o ministro dos Esportes, Orlando Silva, que, ainda por cima, é 'de Jesus Júnior'.

(O texto mais acima é a letra de Caprichos do destino, música do outro Orlando Silva (1915-1978), o cantor, contra quem nunca se soube constarem acusações de desvio de dinheiro público.)

   

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

20 cidades num só grito contra a corrupção

  
Novas marchas contra a corrupção, desta vez em 20 capitais brasileiras, movimentaram milhares de pessoas neste feriado de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. O maior número de manifestantes foi registrado - que bom! - em Brasília: aproximadamente 20 mil. Foi mantido o caráter apartidário do movimento, sem a adesão de sindicatos nem de partidos políticos. Como ocorreu no Rio, em 20 de setembro, a UNE preferiu omitir-se em relação a mais este clamor pela moralidade pública, uma constante desde o início da hegemonia do PT no governo federal.

Na capital do país, a OAB apoiou o movimento; alguns participantes usavam blusas manifestando apoio à função fiscalizadora do Conselho Nacional de Justiça. Em faixas, pedia-se, entre outras medidas, o fim do voto secreto nas votações do Congresso Nacional.

Uma grande pizza estilizada em tecido (em Brasília), vassouras (no Rio) e narizes de palhaço (em Recife) deram o tom do protesto, entre outros recursos usados pelos manifestantes.

   

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Uma tarde para ficar na história do Rio: multidão faz coro contra a corrupção na Cinelândia


  
Cerca de 2,5 mil pessoas - na avaliação da Polícia Militar - fizeram na tarde desta terça-feira (20) uma manifestação contra a corrupção, ocupando a Praça Floriano junto à Câmara Municipal. Sob as palavras de ordem 'sou brasileiro carioca e tô de saco cheio dessa história', o movimento Contra Corrupção - Compartilhe Honestidade (www.contracorrupcao.com.br), de caráter apartidário, juntou gente que saía do trabalho e passantes, num grito de basta aos desmandos e desvarios que vêm tirando o sono e a paciência da população; além do dinheiro do ilustríssimo contribuinte.

Os manifestantes clamaram pelo fim das indicações políticas para cargos técnicos, do nepotismo e do foro privilegiado para o julgamento de crimes de corrupção - para os quais querem a classificação de hediondo. Também bradaram pela adoção imediata da Lei da Ficha Limpa.

Várias faixas criticavam o governador do Estado ('Fora, Cabral!'), em especial as ostentadas pelos Bombeiros, que foram muito aplaudidos quando chegaram e se instalaram nas escadarias do Palácio Pedro Ernesto. Outra mensagem levantada pelo grupo lembrava que 'Cabral ignora Bombeiros'.

O ex-presidente Luiz Inácio da Silva, a presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores foram muito lembrados em cartazes com frases de efeito, como 'Abaixo a clePTocracia', uma crítica contundente aos desvios de dinheiro público patrocinados por políticos e agregados do partido do governo. Existe uma percepção popular consagrada de que 'nunca na história desse país' houve tantas e tão flagrantes denúncias comprovadas de corrupção no Serviço Público quanto nos últimos nove anos, período que coincide com a ascensão do PT ao Planalto.

Outros protestos paralelos também ganharam espaço na Cinelândia. Uma faixa preta estendida no balcão do prédio da Câmara cobrava até quando Santa Teresa ficará sem os bondes, em alusão à interrupção do tráfego dos carris por até um ano, após o grave acidente de 27 de agosto, que deixou seis mortos. Ao lado, outra lembrava a luta para a aprovação da PEC 300, cujo teor é a definição de um piso salarial nacional para a Polícia e os Bombeiros, usando como paradigma o que é pago no Distrito Federal. Os Bombeiros do Estado do Rio, o segundo mais rico do país, recebem os mais baixos salários do Brasil.

A campanha contra a corrupção no Brasil continua: por meio de novas manifestações populares organizadas e ordeiras, como a que se realizou neste histórico 20 de setembro de 2011; através do acompanhamento pretendido pelo blogue Quero Um Brasil Decente, com informações úteis a respeito; e na consciência de cada cidadão brasileiro, em função de seus atos cotidianos e na sua indignação ante o desrespeito à sua cidadania.

Veja fotos do evento, tiradas com o uso de um telefone celular. Clique numa delas para vê-la maior e às outras também.