sábado, 2 de fevereiro de 2013

Novos tempos, velhas práticas, mesmas mazelas


Dois momentos de luto abateram o Brasil esta semana: a tragédia ocorrida na boate de Santa Maria e a eleição para a presidência do Senado. Foi eleito para o comando de um dos Poderes da República um homem de caráter enodoado, em plena vigência da Lei da Ficha Limpa, apesar do clamor popular e de alguns segmentos ainda sérios da própria política brasileira. Que saudade da capital federal onde se podia alcançá-la!

Prevaleceu a 'governabilidade', ou seja, a vontade despótica do Poder Executivo que, mais uma vez, pôs o parlamento de joelhos. Uma condição que faz com que o cidadão se pergunte: para que serve o Congresso Nacional, então? Não seria mais barato fechá-lo e, com a economia feita, destinar os - vultosos - recursos hoje gastos sem critério nem controle para melhorar a estrutura de atendimento à população em geral (Saúde, Educação, Segurança...)? Uma verdadeira democracia não precisa de deputados e senadores subservientes ao palácio do governo, que funcionam como meros referendários de tudo o que dita o autocrata em exercício.

Ficou mais uma vez evidente a tolerância da casa (às vezes me ocorre que a expressão aqui estaria invertida) para com a troca promíscua de favores que, desde a ascensão da esquerda, tem sido o modo padrão de negociar entre esses outrora respeitáveis Poderes constituídos. Nem se pode dizer que perdeu-se o respeito, já que é impossível perder o que não se tem.

Vossa Excelência certamente votou com a sua consciência. Ou, ao menos, espera-se que tenha sido com ela. Seu voto é secreto, como manda o regimento da casa, algo extremamente conveniente a si e que provoca dois fenômenos. Ao mesmo tempo, impede o crédito à dignidade dos que se manifestaram contra; e alcovita aqueles que, como de tantas outras vezes, ousaram pôr mesquinhos interesses particulares acima do interesse maior da nação.

Peço que Vossa Excelência honre sua condição de Senador da República e tenha a dignidade de declarar seu voto particular, em retorno a esta mensagem.

Em tempo: solidarizo-me com o sentimento de tristeza e revolta daqueles que repudiaram a escolha, mas nada puderam fazer ante a vontade da maioria. A eles, desejo absoluto sucesso em sua luta em prol de um país melhor, sob todos os aspectos. Especificamente a eles, também, me desculpo pelo tom áspero que me vejo obrigado a usar, já que pertinente aos 72% do plenário que, em deplorável demonstração de desonra, renderam-se à lascívia do poder.

(transcrição de correio eletrônico enviado individualmente aos endereços dos senadores desta legislatura, à exceção de dois deles, Ruben Figueiró [PSDB-MS] e Sodré Santoro [PTB-RR], cujos dados não constam do portal do Senado Federal)


Nenhum comentário:

Postar um comentário