segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Luto patriótico


Neste domingo, mais de sete milhões de pessoas, cerca de 6% do eleitorado, votaram em branco ou anularam o voto. Compareceram às urnas para dizer, por meio delas, com absoluta empáfia: eu me omito diante do que está acontecendo no Brasil. Outros 30 milhões, um em cada cinco votantes, fizeram exatamente a mesma coisa, abstendo-se de votar. Para esses 37 milhões de brasileiros, descontando-se as honrosas exceções de idosos, doentes e ausentes por razões de trabalho, as desculpas foram várias, desde não gostar de um, de outro, ou de ambos os candidatos, a achar que seu voto, sozinho, era uma gota no oceano e não faria falta, no final das contas. Certamente fez. A diferença a favor da candidata da situação foi de 3 milhões e meio de votos. Os que não se manifestaram, nem por Aécio, nem por Dilma, somaram portanto quase onze vezes isso.

São brasileiros que preferiram um silêncio cúmplice da má administração do país, com inflação desenfreada, economia estagnada e insegurança generalizada em nossas cidades. Talvez dinheiro não lhes faça falta, o emprego abunde e haja fartura em suas despensas. E existam guarda-costas suficientes para garantir-lhes a tranquilidade necessária à vida.

Brasileiros que optaram por fechar os olhos diante dos recorrentes casos de desmando, aparelhamento do Estado e corrupção, fazendo de conta que nada disso existe e que os fatos se resumem a campanhas difamatórias, orquestradas por grupos políticos determinados a galgar o poder a qualquer preço. Talvez lhes falte discernimento e capacidade de raciocínio. Ou ainda conhecimento mais profundo, não ideologicamente contaminado, da História do Brasil.

Brasileiros que entraram no jogo da disseminação do ódio, aceitando a manobra de transformar adversários políticos em inimigos conflagrados e cindir a nação ao meio, colocando irmãos contra irmãos como estratégia para permanecer no poder. Talvez não compreendam o significado de palavras como família e Deus, ou careçam do verdadeiro Amor em seus corações.

Brasileiros que endossaram o apequenamento de seu próprio povo, consentindo que a escravidão promovida pelo assistencialismo de governo se perenize para um gigantesco contingente de famintos por pão, saúde e educação, aos quais não se dá migalha senão como moeda de troca por voto. Talvez tenham dificuldade de perceber que essas pessoas merecem respeito e dignidade, tanto quanto têm o direito de almejar um futuro promissor, com a recompensa correta por seu trabalho. 

Neste 26 de outubro de 2014, venceu a democracia. Como tem sido da tradição política de nossa História recente. Que bom. Entretanto, por tudo que exponho aqui, penso que perdeu o país. Por esta razão, impõe-se um luto patriótico. Ao menos, para mim.

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